O Professor Marcelo Rebelo de Sousa, no seu comentário de ontem, disse muito daquilo que penso sobre a comunicação ao país do Primeiro Ministro, na passada sexta-feira. Por isso, talvez este post fosse desnecessário. Por isso talvez também o PS fosse desnecessário. No entanto, em homenagem ao bem estar do meu fígado, devo escrever umas linhas.
- A coisa foi tão deprimente que até a selecção ficou mais triste que o Ronaldo e, em vez de nos fazer esquecer a comunicação, mais não fez do que aumentar as nossas angústias. Esta coisa de comunicar ao país más notícias meia hora antes do futebol, à boa maneira do Sócrates, só revela a categoria dos assessores dos nossos governantes.
- De concreto, o Primeiro Ministro só disse duas coisas: que nos vão tirar mais dinheiro e que não cumprimos os objectivos do acordo com a troika.
- Relativamente aos objectivos, não era difícil prever tal desfecho. Só um milagre conseguiria fazer o "ajustamento" pretendido em tão curto espaço de tempo. Dito de outro modo, um ano ainda é pouco tempo para ficarmos tão pobres quanto o que a troika pretende.
- Mas, neste aspecto, Marcelo tem "toneladas" de razão. Antes de vir com novas medidas, o Primeiro Ministro deveria prestar contas do que foi ou não conseguido. Do que se fez e do que não se fez.
- Marcelo disse que este discurso de Passos revelou impreparação. Discordo aqui do Professor. Este tipo de fazer política é bem nosso conhecido dos tempos de Sócrates. Não é impreparação, é aquela maneira de dizer as coisas de modo vago, nunca dizendo tudo, para ver como a malta reage. Depois é que se passa ao concreto, com alterações até ao que antes se tinha pensado. Por isso é que é impossível agora dizer se é constitucional ou não, pois está tudo por saber.
- Relativamente ao que nos vão tirar, ainda mais do que em 2012, e a quem, disso não há dúvidas. Ao "mexilhão" outra vez!
- Quanto à equidade, "que se lixe"! Aos pensionistas continuamos a tirar dois subsídios, aos trabalhadores por conta de outrem do privado tiramos um e aos funcionários públicos, esses grandes responsáveis por toda esta crise, para além de continuarmos a tirar dois ainda vamos buscar o IRS de um desses dois. E com as alterações aos escalões deste imposto e mandando às malvas as deduções e abatimentos (menos aquela da factura da bica, pois essa é muito importante) ainda vamos buscar mais uns trocos (que já devem dar para pagar os regimes de excepção dos administradores de algumas empresas públicas).
- Para calar a malta devem vir aí uns paliativos para os capitais (não queremos os bancos zangados), fechamos uma ou duas fundações e continuamos a aclamar as vitórias de Pirro que temos tido nas renegociações das auto-estradas. Mandar para as urtigas os contratos das PPP's é que nunca faremos. Afinal cumprimos os nossos contratos!
- Pelo meio ainda obrigamos a malta a receber o subsídio às prestações ("O subsídio reposto será distribuído pelos doze meses de salário para acudir mais rapidamente às necessidades de gestão do orçamento familiar dos que auferem estes rendimentos"). Acudir com menos dinheiro todos os meses! É uma boa maneira de se irem desabituando dos números 13 e 14. Ficará o 12, até ver.
- Quem está toda contente com isto é a dona da mercearia ali da esquina. Com o que vai poupar em taxa para a segurança social vai, com toda a certeza empregar toda esta malta desempregada que às vezes se junta à sua porta a beber uma cerveja (é que a cerveja lá é mais barata do que a do café da mesma rua).
- O marido é que não deve estar pelos ajustes. É capaz antes de comprar um Porche! Convenhamos que só com um Porche é que se é um verdadeiro empresário.