sábado, 23 de fevereiro de 2013

Recordando o Teste Intermédio de Maio 2012

Costuma ser à 6ª-feira que o GAVE publica na sua página aquilo que vai produzindo. Ontem publicou o "Relatório dos Testes Intermédios 2012".
Confesso que estava curioso para ler a apreciação feita, em particular, aos resultados do Teste Intermédio (TI) de Matemática do 9º Ano de Maio passado. Recordo que os posts (em particular o "Teste Intermédio de Matemática, 9º Ano: do 8 ao 80") que publiquei neste blog sobre este teste tiveram bastante audiência e comentários, pelo que, tem sentido abordar novamente o assunto.

Recordo também que os resultados nacionais eram conhecidos desde Junho de 2012, embora o acesso a essa informação dê algum trabalho. Na verdade, não percebo a razão de a informação relativa aos resultados de cada TI continuar a ser publicada na área de acesso restrito das escolas. Será informação confidencial? Qual é a diferença em relação ao relatório ontem publicado?

Bem, mas o que é confidencial (supostamente), rapidamente deixa de o ser com uma breve pesquisa num motor de busca da Internet. Ora a Informação nº 20 do GAVE apresenta a síntese estatística dos resultados desse teste.
Conforme previsto, uma média nacional baixíssima de 31%. Nas 17 questões que o teste apresentava, só em 3 a razão entre a classificação média da questão e a sua cotação total foi superior a 50%. Em 13 das questões, a percentagem de respostas cotadas com zero pontos foi superior a 52%.
Muito pior que os resultados do TI de Matemática do 8º Ano (Informação nº 8) que já tinham sido bastante maus (média nacional de 39%).

Apesar de estar curioso em relação ao relatório, não esperava encontrar nele grande descrição ou análise em termos da realidade que acabei de recordar ou do que me incomodou em Maio passado.
E assim aconteceu, o relatório ontem publicado pelo GAVE analisa o TI de 9º ano segundo um modelo comum à análise que faz a todos os outros Testes Intermédios. Destacam-se e analisam-se os 3 itens com melhor e pior desempenho e apresentam-se "propostas de intervenção didáctica" para a disciplina no 3º Ciclo. Tais propostas colocam o ênfase do insucesso (ou sucesso) dos resultados nos alunos e professores. Destacam-se as dificuldades evidenciadas pelos alunos, no caso da Matemática, na leitura e na interpretação de um texto/gráfico, nas conexões entre vários conteúdos, no raciocínio matemático e na capacidade de abstracção. Propõem-se "estratégias" aos professores: "desenvolvimento de trabalho conducente à apropriação de rotinas, assim como a resolução de problemas que exijam a mobilização de vários conceitos e propriedades e de problemas que permitam desenvolver o raciocínio matemático e a capacidade de abstracção". Acrescenta-se ainda que "a resolução dos testes intermédios/exames nacionais já realizados e o cumprimento das propostas apresentadas pelos manuais adoptados nas escolas continuarão a ser uma boa base de trabalho para a apropriação de rotinas e para o desenvolvimento das capacidades exigidas a um aluno do ensino básico."
Se tiverem a paciência de ler o Relatório de 2011, verificarão que a conversa é semelhante. Diagnosticam-se as mesmas dificuldades e prescrevem-se as mesmas estratégias. O que não é de estranhar, diga-se, pois tais dificuldades são reais e as estratégias são aceitáveis.
O problema é que os resultados foram muito piores (em Maio de 2011 a média do TI de 9º Ano de Matemática foi de 44%). Uma diferença de 13 pontos percentuais em relação a uma média que já era negativa não merece uma análise mais detalhada? E aceita-se que o diagnóstico seja exactamente o mesmo? Já nem me pronuncio sobre as estratégias.
Será que o "valor regulador destes instrumentos de avaliação", que o GAVE apregoa como inerente ao quadro conceptual e às finalidades dos Testes Intermédios na página 8 do dito relatório, não foi colocado em causa?
Para mim esta continua a ser a questão que devia ser abordada. Apesar de serem os aspectos mais importantes  do processo de aprendizagem, não são as dificuldades dos alunos nem as estratégias dos professores de Matemática que, neste caso particular deviam preocupar o GAVE. Tais dificuldades são bem conhecidas dos professores e as estratégias são aplicadas todos os dias. O que devia ser analisado é a forma como se conduz e faz a avaliação sumativa externa. A sua coerência face à realidade dos alunos, das escolas e do País que temos e somos. A sua congruência com aquilo que está nos programas, com o que se ensinou, com o que se exigiu naquele ano lectivo e nos anteriores. A sua consonância com esta escolaridade obrigatória imposta por decreto.
O que devia ter sido reconhecido é que a avaliação sumativa não pode continuar a ser arma de arremesso ao serviço da propaganda política.
Sim, quero rigor e exigência. Mas sei que Roma e Pavia não se fizeram num só dia. A Educação exige tempo, paciência e visão a longo prazo. Não se pode chegar e mudar tudo de uma vez. Não se pode ir do 8 ao 80 em tão curto espaço de tempo!

Nota:
O texto anterior tem 819 palavras. Convido o leitor a cronometrar a sua leitura. Em seguida, consulte (AQUI) as metas curriculares e veja se escapa ao chumbo em Português!

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