sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sobre a nova prova de Inglês

O País educativo foi esta semana surpreendido com o despacho que implementa, já este ano, "os testes diagnóstico de Inglês, doravante designados por provas" (tal como aparece exarado no dito despacho).

Ao ouvir a notícia, o primeiro pensamento foi o de que o Ministro lá conseguiu mais um exame para os alunos fazerem. Afinal é mesmo disso que ele gosta, pôr a malta a fazer exames. Mas não é bem assim, isto é mais rebuscado do que à primeira vista parece. Ora vejamos:

Neste mundo actual e no contexto de uma globalização que todos os dias nos confronta, parece-me clara a importância da aprendizagem das línguas estrangeiras, em particular, do Inglês. As competências nesta língua tornaram-se extremamente importantes como factor de sucesso futuro dos cidadãos portugueses. Num país que vive muito do turismo e que agora convida os seus a emigrarem, a falta destas competências é determinante para um futuro profissional, social e económico mais sombrio.

A União Europeia tornou também clara a necessidade de certificar estas competências linguísticas. Por isso existe o Quadro Europeu Comum de Referência para as línguas. Julgo que a principal intenção do despacho é precisamente esta, a da certificação.

Atendendo aos dois parágrafos anteriores parece então compreender-se o que pretende o Ministro.
No entanto, quando penso no assunto com mais profundidade, surgem-me algumas questões.

A primeira é relativa ao timing do despacho. Mais uma vez, fazem-se as coisas em cima da hora. Decreta-se uma prova já para o próprio ano lectivo. Nada a que não estejamos já habituados, mas que continua a ser uma péssima prática.

Depois, dou comigo a pensar que os alunos têm Inglês desde o 5º até ao 11º anos de escolaridade (alguns até têm mais anos pois já iniciaram no 1º ciclo do ensino básico). No final do 12º Ano obtêm um certificado de estudos de nível secundário. Não servirá isto para nada ao nível da certificação das competências nas línguas?

Penso ainda na entidade designada para o processo. Obviamente que não se coloca em causa a Universidade de Cambridge, cuja competência é reconhecida mundialmente. O que se questiona é o porquê  e o como de ter sido ela a escolhida. Realizou-se algum concurso público para o efeito? As Universidades portuguesas que leccionam cursos de línguas foram convidadas para assumir este papel? Como tudo isto se processou?
Esta questão é de extrema importância pois trata-se de uma entidade externa ao Ministério a participar num processo de avaliação de alunos. Agora que o GAVE foi (ou vai ser) substituído na supervisão da avaliação externa dos alunos, será este um exemplo de como o processo de elaboração das provas de exame vai funcionar?

Finalmente, a constatação de uma realidade que tem estado subjacente à acção deste Ministro. Já sabíamos que o Ministério tem pouca consideração pelos professores dos ensinos básico e secundário (até porque são funcionários públicos!). Começa agora a ficar claro que o Ministério não tem confiança nenhuma em quem os formou. A frase "não se pode ensinar bem o que não se sabe bem", sendo uma verdade de La Palice, ilustra bem o pensamento do Ministro em relação ao que as universidades produzem.
Esta prova de Inglês é outro atestado de incompetência às universidades portuguesas, agora às de línguas, passado por este Ministro.

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