sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A greve

Não fiz greve.
Confesso que nunca fui muito dado a greves, apesar de a elas já ter aderido. E quando o fiz foi por achar que elas poderiam ter alguma consequência prática.
Tal não me parecia ser o caso desta.

Infelizmente, a greve em Portugal usa-se com demasiada facilidade e por tal motivo perdeu, há muito, o seu verdadeiro significado. O que tem acontecido, e esta não escapou à norma, é que quase todos ganham com ela menos quem a faz e quem com ela vê o seu dia-a-dia afectado. Os sindicatos ganham margem de manobra ou protagonismo. Os partidos que as promovem obtêm, ou julgam que têm, victórias políticas. Os patrões ou o Estado poupam o dinheiro dos grevistas. A comunicação social ganha assunto para notícia.
Acho que já dei para este "peditório", já contribuí o suficiente para que outros (que, talvez, nunca souberam o que era trabalho) se promovessem à custa destas situações.

Para o País, para o drama económico-social em que nos encontramos, esta greve em particular, por mais sucesso em termos de aderentes que tivesse, iria mudar alguma coisa? Sinceramente acho que não. Acho que ela não faria com que nos tirassem menos dinheiro, com que houvesse mais emprego, com que a dívida do país diminuísse ou até com que o Governo caísse (se é que isso era uma coisa boa).
Esta minha posição não é sinónimo de achar que nos devemos resignar ou que acho muito bem o que o actual Governo tem feito. Não! Mas enquanto continuarmos devedores, a coisa não vai mudar. Esquecemos com demasiada facilidade este facto óbvio que implica directamente outra coisa trivial: a nossa autonomia financeira (para não dizer outras) está suspensa.
E já agora, pedindo desculpa aos mais sensíveis, hoje o Ministro Gaspar disse-o no Parlamento (mais uma vez): o nosso problema chama-se dívida e essa dívida não foi este Governo que a contraiu!

Gostava também de referir outro aspecto que me parece de analisar. Quem, neste País e neste momento, teria mais razões para aderir à greve, o funcionalismo público ou o privado?
Se todos vamos apertar (mais) o cinto em 2013, os do privado irão sentir mais. A eles ainda ninguém cortou os subsídios de férias ou de Natal. Aos funcionários públicos e aos pensionistas que auferem rendimentos superiores a 1100€, para além dos subsídios, já desde 2011 que o Estado lhes corta todos os meses cerca de 6% do ordenado (menos aos das excepções, claro está). Então seria lógico que eles aderissem em maior percentagem à greve. Não me parece que tal tenha acontecido.

É certo que este Orçamento vai afectar a todos. É certo que quem não tem emprego ou não vê perspectivas de o ter sofre já muito mais. Entendo a adesão numa perspectiva de protesto, de manifestação ou de descontentamento. Não a entendo, sinceramente, numa perspectiva pragmática, realista.
Talvez seja por isso que o pós-greve se dilua tão ridiculamente no destaque dado à "carga" policial sobre os "manifestantes" (para não chamar o nome às coisas), junto ao Parlamento.
Apesar de a comunicação social ter conseguido ganhar o dia, enviando para o exterior uma imagem daquilo que verdadeiramente não aconteceu, este simples facto revelou que esta greve foi, mais uma vez, apenas instrumento que serviu a muitos mas não a quem a fez.
E, infelizmente, foi só isso!

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